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“Eis que aparece Julinho,
Ponteiro colorado,
Por discutir com o juiz
Foi expulso do gramado.”
Era realmente um time de juvenis espetacular. O S.C. Internacional deve agradecer e muito a esses jovens e brilhantes atletas, que pelos idos dos anos de 51/52, com a liderança de Tio Ruja (Rogério Ramos) formaram a melhor e o mais ajustado “time” de futebol juvenil da cidade, e cremos, em todos os tempos de Lages.
Os emocionantes jogos eram disputados no campo do Colégio dos Padres Franciscanos, atrás da cadeia e lá pelas bandas onde fica hoje o SENAI.
Era um campo esburacado e cheio de montinhos. Tinha pouca grama e numa das traves tinha um arremedo de rede, isto é, mais buracos que rede.
Foram partidas memoráveis. Contra o time dos padres, o GD. Em que atuava, às vezes, como juiz, o próprio Frei Odorico, diretor do colégio; contra Palmeirinhas, do Armindo Ranzolin, que era o chefe, dono, técnico, massagista e guarda esporte e dos mais esforçados, pois ele mesmo trazia nas costas o material esportivo necessário; contra o União Operária, time do Pinto, muito aguerrido; contra juvenis do Vasco, nossos eternos rivais, do Cabelinho (Enio Schmidt), do Tio Baia (o saudoso Moacir Schmidt) e outros mais, inclusive seleções formadas para nos derrotar.
Renan, Plínio, Aujor, Zéquinha, Telminho, Rogério, Adair, Áureo, Laurinho, Lino, Julinho.
“Laurinho o centro avante,
É o tal, o gostosão,
De cabeça leva a bola
Faz um gol de campeão!”
Mas o importante de tudo era a grande amizade reinante entre todos, mesmo com os jogadores dos outros clubes. Todos rapazes de seus 15 a 16 anos, queríamos mesmo era competir, o que fazíamos com muita raça e vontade. Não existia na época o perigo que hoje representam os tóxicos e dessa forma a juventude descarregava suas energias no esporte, independente da modalidade. Se pintasse uma bola lá estávamos a correr em seu alcanço.
“Adair brigava e chorava,
Mandando o Pinto passar,
O Plínio lia um jornal
Até a bola chegar!”
Toda manhã de domingo, independente do frio, chuva ou sol, lá chegávamos ao campo dos Padres.
Vestiário? Ao lado do campo. Uniforme? Comprados com nossos esforços e com a ajuda monetária do Tio Ruja e também do Armindo Araldi, que fazia parte da diretoria do Inter e de certa forma era nosso anjo protetor.
Certa feita, o Sr. Mário Souza, um dos donos do cine Marajoara cedeu-nos um matinée para sábado à tarde e a renda seria totalmente para podermos comprar material esportivo, como bolas, jogo de meias e camisas. As chuteiras saiam do bolso de cada atleta.
Toda noite, saíamos a vender, de porta em porta e de rua em rua as entradas para o matinée. Lotamos o Marajoara, para alegria do próprio Mario Souza. Filme? “A Conquista do Ouro”, far west americano.
Os jogadores base dos juvenis foram: Plínio, Aujor, Renan, Ivo, Lino, Zequinha, Rogério, Telminho (craque), Valdir, Adair, Áureo, Laurinho, Osmany, Julinho, Melegari, Pinto, Juan, Zú (Sebastião Muniz), Guy.
O Áureo, o menor de todos, jogava descalço, só de tornozeleiras. Já era craque desde aquela época. Ainda jovem foi para o Flamengo de Caxias do Sul e mais tarde para o Grêmio de Porto Alegre. Lá foi capitão do time e campeão gaúcho várias vezes.
Fomos bicampeões invictos de juvenis, com direito a faixas, madrinhas e tudo o mais. Vencíamos todos os adversários, quase sempre com facilidade. Modéstia à parte, era um timaço o “juvenil do inter”.
Quando jogávamos nas preliminares dos jogos principais, no campo do Areão de Copacabana, tínhamos sempre uma torcida nos aplaudindo, independente das cores de seus outros clubes.
Com os mesmos jogadores e com o nome de Brusquense, disputamos o campeonato varzeano da cidade, que contava com várias e fortes equipes.
O Nardo, o negro Vicente e o Cizo na ponta esquerda, jogadores do bairro que emprestava o nome faziam também parte do time e fomos campeões na modalidade.
BRUSQUENSE FUTEBOL CLUBE CAMPEÃO VARZEANO DE FUTEBOL 1953
Jogadores:
Em pé: Lino, Plínio, Nardo, Aujor, Rogério e Vicente.
Agachados: Adair, Áureo, Laurinho, Pinto e Cizo.
Em pé a esquerda, nosso técnico. Já de gravata, antecipando-se a Vanderlei Luxenburgo.
Os demais são dirigentes do clube. Bem atrás, fazendo micagem, Marino Malinverni. (No campo dos Padres)
Estávamos para estourar a idade de juvenis, na época de 18 anos, o Armindo Araldi convidou-nos para ser o 2º. Time do Inter e disputar a modalidade. Aceitamos, com o trato de jogar só nossa equipe. Trato aceito, somos bicampeões, também invictos, vencendo times formados por jogadores veteranos e reservas dos 1ºs. times, o que não deixa de ser outra demonstração do bom quadro que tínhamos.
2ª FASE: 1953/1954 – ASPIRANTES – BICAMPEÕES
“Colorado é pequenino
Mas é macho sim senhor
Campeão dos lageanos
Desde o dia que se formou.”
Na véspera de iniciar o campeonato de profissionais no ano de 1955, salvo engano, uma tremenda crise no Inter culminou com a dispensa de grande parte dos jogadores profissionais, ficando a equipe esfacelada. Por não possuir atletas suficientes, não iria disputar o campeonato. O Armindo Araldi, sempre ele, apelou para nosso juvenil. Fizemos o mesmo trato, isto é, jogaria a nossa equipe, ainda tratada como “juvenis do Inter”.
Os quatro ou cinco profissionais que permaneceram no Inter não jogaram na estréia contra o Vasco da Gama. Resultado: vencemos o clássico por 2 x 1, num grande feito e ficamos em 3º lugar, disputando com as equipes profissionais do Lages F.C., Vasco, Aliados, Pinheiros e outras, sem nunca fazer feio. Dessa forma, o Inter pode manter uma equipe básica de amadores, continuar vivo pôr mais tempo e anos depois ser campeão do estado.
Em pé: Vicente (técnico), Magalhães, Boanerges, Pedrinho, Hamilton, Alemão, Eustálio, Zaira (madrinha) e Armindo Araldi.
Agachados: Plínio, Túlio, Melegari, Lino e Amauri.
Massagista: De Carli
3ª. FASE: 1955 EM DIANTE: EQUIPES PRINCIPAIS
1959: CAMPEÃO AINDA COM VÁRIOS JUVENIS
“Colorado é maior,
Dentro de campo campeão,
Pra jogar com nosso time
Ter que ser um campeão.”
Em síntese, essa é uma pequena história do melhor juvenil de todos os tempos de Lages.
Outros jogadores que também jogaram posteriormente foram o goleiro Chimbica (Remi Melo), o Gico, o Hilário, o Marino; dos demais clubes, o goleiro Eduardo (Barreira), o Nelson, o Coro, o Nilson Campos, o Caon, o Juarez Furtado, o Edel, o ponta Elias, o Aires Souza e sabemos terem havidos outros mais, gravados em nossa memória mas infelizmente o “danado” do tempo teima em apagar.
“Eta! Eta! Colorado é o maior, campeão dos lageanos desde o dia que se formou!” E outros, eram versos que inventávamos e cantávamos baseados na melodia das músicas da época, o que vem provar a grande união e amizade existente entre toda aquela turma, mesmo fora de campo.
Autor do Texto: Plínio Maines (maines@matrix.com.br)